quinta-feira, 22 de março de 2012

Poesia e Cinema

O dia 21 de Março não só foi dedicado às árvores, como também à poesia. Quero dedicar um pequeno texto entre a relação existente a poesia e o cinema, pois muitos talvez a ignorem.
Há obras ensaísticas, algumas já com algumas décadas de existência, que exploram esse laço artístico, seja na tentativa de encontrar a estética e a estrutura poéticas, e na de estabelecer o cinema como uma forma de paraliteratura. Também são comuns os poemas e as colectâneas de poesia que vão buscar inspiração às películas.

O cinema já se dipôs a transformar trabalhos poéticos em filmes, geralmente epopeias ou peças teatrais. Pense-se nas várias adaptações das aventuras de Ulisses e da guerra de Tróia ou da obra shakesperiana. Nestas é costume alterar os textos originais de maneira a torná-los mais realistas ou perceptíveis a um público que lê cada vez menos poesia.
Porém, alguns nomes mantiveram a suposta estranheza dos textos poéticos abordados e a beleza da sua linguagem, pelo menos ao nível dos diálogos. Kenneth Branagh tem na sua longa lista de trabalhos como realizador e actor adaptações de diversas peças de William Shakespeare em que as falas das personagens se mantêm fiéis às dos textos originais. Baz Luhrman, realizador australiano muito conhecido pela extravagância dos seus filmes, transpôs os diálogos da peça "Romeu e Julieta" para o seu trabalho "Romeu+Julieta", Romeo+Juliet, cuja acção decorre na actualidade e conta inclusivamente com disputas entre gangues dos subúrbios de Verona.

Outros filmes apostam em explorar a poesia como um método de redenção, de maturação interior e um instrumento para compreender a beleza do mundo. Mencionarei apenas dois exemplos para esta mensagem não se extender demasiado: "O Clube dos Poetas Mortos", Dead Poets Society, de Peter Weir, tem como cerne a relação que se forma entre um professor de Inglês pouco convencial, os diferentes alunos da sua nova turma de um colégio privado exlusivo para rapazes e a poesia como algo que os une e que ajuda a superar diversos obstáculos, sejam a timidez, a submissão aos cânones familiares e a ingenuidade imposta por um sistema de ensino que não parece estar desenhado para aumentar o campo de conhecimentos e a abertura mental dos jovens; o outro título a referir é "Poesia", Shi, de Chang-dong Lee, onde uma mulher na casa dos sessenta que descobre ter Alzheimer e alberga em casa um neto apático que causou indirectamente, com uns amigos, o suicídio de uma jovem, tenta livrar-se dos seus fantasmas, expiar um pecado que não é seu e redescobrir o que há de belo na vida através da escrita de poesia.

Os biopics de poetas são objectos interessantes de estudo, ao permitirem compreender a mente e as experiências que moldaram uma poesia própria. Mas há muitas vezes informações adulteradas que podem alterar a percepção que o espectador tem ou começa a formar acerca de um autor e dos seus motivos e impulsos. Havendo uns melhores e outros piores, é provável que nunca se conheça bem a mente de um poeta, quanto mais a da vizinha do lado ou a da irmã gémea!

Também existem os filmes que, apesar de serem trabalhos com base em argumentos originais ou não se focarem num texto poético em particular, têm uma natureza poética. Pense-se em "A Árvore da Vida", The Tree of Life, de Terrence Malick, de um lirismo e um onirismo sumptuosos e comoventes e assemelhava-se a um poema não só sobre uma família norte-americana a crescer e a viver vários tipos de experiências, mas igualmente sobre o surgimento da vida, o crescimento do planeta e das formas de vida na Terra. O já referido Poesia é tocante e belo como um poema num livro da biblioteca do pai ou da mãe, os poemas lidos pelos alunos do "workshop" apresentado no filme ou a peça que a protagonista do filme vai criar.

Já sentiram que um poema vos parecia cinematográfico, facilmente transformável numa sucessão de imagens com diálogos e personagens aliados a uma banda-sonora? Ou tiveram a experiência de visionar um filme que poderia perfeitamente ter como base um poema ou que exibe lirismo com naturalidade? Podem comentar!

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