"Like Someone in Love"

"Like Someone In Love" é o mais recente trabalho de Abbas Kiarostami a estrear nos cinemas. O título é uma referência a um tema musical de Ella Fitzgerald que se pode escutar durante uma cena da película.

A narrativa centra-se em Akiko, uma estudante universitária que paga os estudos recorrendo à prostituição. Numa noite em que queria encontrar-se com a avó que está de visita à cidade, acaba por se deslocar a uma casa de um velho professor para realizar um trabalho. No dia seguinte terá de enfrentar alguns desafios ao mesmo tempo que o cliente decide assumir um novo papel em relação a Akiko.

O filme explora, sem pressas, as suas personagens e até mostra alguns momentos de comédia. A narrativa desenvolve-se devagar, mas sem excessos. O papel duplo do cliente de Akiko é bem conseguido.

Mas eis que, quando se inicia uma sequência tensa e impactante, o filme termina. Termina quando podia dar a conhecer melhor as personagens e as relações entre elas. Termina de forma abrupta, um pouco como alguns filmes de Haneke, e deixando muito à imaginação dos espectadores. Será este final o mais adequado para esta película? Talvez seja se o seu objectivo é criar um quadro de situações simples e discreto. Mas, também, pode ser que este não seja o melhor final.

O crescimento de um homem

Estreou em Setembro o mais recente filme de Lee Daniels, o realizador do fantástico "Precious", um trabalho com o título "O Mordomo". As expectativas eram altas e o elenco vasto e de luxo servia como aliciante.

Baseado em factos verídicos, "O Mordomo" acompanha a personagem Cecil Gaines desde criança até à terceira idade, focando-se principalmente no período em que ele trabalhou como mordomo na Casa Branca. São mostrados acontecimentos marcantes na sua vida e o modo como lidou com o racismo e as crises políticas. Em paralelo aborda-se o desenvolvimento do filho mais velho de Gaines, que de estudante inquieto e sedento de mudança se vai tornando num conhecido activista político contra a discriminação dos afro-americanos e contra as guerras.

"O Mordomo" é um filme organizado e emocionante que narra uma história e trata de temas importantes com eficiência e subtileza. O elenco porta-se bastante bem e Forest Whitaker na pele de Cecil Gaines é tocante e flexível. A publicitada banda-sonora, da autoria do português Rodrigo Leão, adequa-se bem à grande e inspiradora narrativa fílmica.

O maior defeito do filme é estar demasiado estruturado e polido, como um filme que quer agradar não só ao público, mas também, possivelmente, aos membros de Academias de Cinema. Isto pode ser uma virtude, ao garantir um produto seguro e de boa qualidade, porém é igualmente um defeito, pois limita o filme e torna-o um pouco menos interessante.