domingo, 18 de março de 2012

Explorando os vícios e os impulsos

Vi ontem o polémico, mas muito elogiado, filme intitulado "Vergonha", Shame na versão original. O seu realizador é Steve McQueen, inicilamente mais conhecido como artista plástico e que realizou há poucos anos outro filme igualmente muito elogiado, "Fome", Hunger, que abordava na sua narrativa um caso verídico, a greve de fome que o republicano Bobby Sands, do IRA, e os seus companheiros levaram a cabo numa prisão da Irlanda do Norte em 1981. Tal como "Fome", "Vergonha" é protagonizado pelo actor Michael Fassbender e conta igualmente com a participação de Carey Mulligan, entre outros.

Neste filme, Fassbender interpreta um homem de grande êxito profissional, Brandon Sullivan, um irlandês a viver em Nova Iorque que esconde um segredo: o seu vício em sexo. Brandon tem relações de uma só noite com mulheres, recorre a prostitutas, masturba-se diariamente e visiona filmes e vídeos de pornografia no seu computador portátil. Porém, quando a frágil irmã Sissy invade o seu apartamento e a sua privacidade, ele tenta não abandonar os seus hábitos nem exibi-los à sua irmã cantora, ocultando também os sentimentos mais profundos, o que o atormentará mais do que pensa.

"Vergonha" é um interessante filme sobre sentimentos reprimidos, a natureza humana e a sexualidade. Trata a carnalidade das relações sexuais e o nudismo com naturalidade, quase como se fosse uma obra de arte plástica, o que se pode compreender ao se ter conhecimento do currículo do realizador Steve McQueen.
As prestações de Fassbender e de Mulligan são magníficas e densas: Brandon tanto causa indignação pela sua apatia com os compromissos amorosos e a emotividade da irmã, como pena por não ter uma vida estável e não conseguir assumir os sentimentos; Sissy é um remoinho de emoções inocente e ingénuo com sérios problemas psíquicos que tenta provocar emoções fortes no irmão com o canto ou o toque.
Algumas sequências de "Vergonha" transbordam erotismo, mas a artificialidade da pornografia é apenas um detalhe da biografia de uma das personagens. O filme evita roçar muito bem o mau gosto.

Aviso que o filme não é recomendado a menores de 18 anos, pelo que o nudismo e algumas práticas e referências sexuais podem chocar os mais sensíveis e os que não se sentem à-vontade com o corpo. É feio, o corpo humano, mas não é um bicho terrível, nem da sexualidade se pode dizer o mesmo, do qual devemos fugir e fingir que não existe. Há que enfrentar o que não se conhece e não necessário envolvermo-nos demasiado em algo para o conhecermos.

1 comentário:

  1. A crítica está excepcional! Utilizaste as palavras certas para me aguçar o desejo e a curiosidade em ver este filme.

    ResponderEliminar

Críticas boas e más às críticas