quarta-feira, 18 de julho de 2012

Superar-se é possível

No Domingo passado visionei no canal RTP1 um filme de que já ouvira falar várias vezes, mas que por receio à decepção que me poderia causar não fui ver a uma sala de cinema. Afinal, não era piegas nem tão lacrimoso como pensava. Refiro-me a "Um Sonho Possível", The Blind Side, de John Lee Hancock, um filme de 2009 que conseguiu obter um grande sucesso nas bilheteiras norte-americanas. Foi nomeado em 2010 ao Óscar de Melhor Filme e valeu vários prémios, sempre na categoria de Melhor Actriz Principal, tais como o Globo de Ouro e o Óscar, a Sandra Bullock.

O filme é baseado em factos reais, mais precisamente no período em que Michael Oher, actual jogador atacante da equipa de futebol americano Baltimore Ravens, ascende de uma degradante situação de pobreza a um lugar na Universidade do Mississipi e numa equipa da liga universitária de futebol americano.
Michael teve uma infância difícil num bairro pobre de Memphis com características de gueto. A mãe era viciada em drogas e álcool e o pai foi várias vezes parar à prisão. Michael tinha onze irmãos e não recebeu muita atenção por parte da família problemática, o que fez com que as autoridades tirassem a sua custódia à mãe.
O jovem passou por várias famílias de acolhimento sem grande sucesso, conseguindo entrar na Escola Cristã de Briarcrest graças às suas capacidades desportivas e à insistência do treinador da equipa escolar. Porém, Michael tirava más notas e vivia praticamente como um sem-abrigo quando acabavam as aulas, pelo que os professores desconfiavam que ele não conseguisse ter êxito na vida.
No entanto, uma mulher conservadora e rígida, mas de bom coração e mãe de dois alunos de Briarcrest, Leigh Anne Tuohy, após perceber quão más eram as condições em que vivia aquele rapaz solitário, decide com o marido aceitá-lo na sua casa e no seu meio familiar, proporcionando-lhe uma boa qualidade de vida, carinho e uma tutora para o ajudar a melhorar as notas. Inicialmente, Michael não sabe bem como reagir perante aquela nova situação, mas aos poucos vai aceitando e aprendendo a amar os seus novos irmãos e pais, melhorar a sua situação escolar e perceber qual é o seu maior talento.
Ainda que a narrativa fílmica trate principalmente da maturação de Oher, a força de vontade e o espírito maternal de Leigh Anne Tuohy são também um foco de atenção, algo que sofre igualmente uma evolução.

O filme, abordando um caso como o de Michael Oher, é inspirador e recorda-nos o valor que a família, a amizade e o esforço têm para a nossa vida. Isto não significa que é o melhor do género. A maior parte dos aspectos e ideais que esperamos ver num filme deste género está presente (a ascensão milagrosa, a união inesperada de pessoas e mundos diferentes, a importância de se ter alguém em quem confiar). A suposta falta de originalidade não é um defeito, é verdade, mas nem sempre o ajuda a tornar-se uma obra prima. "Um Sonho Possível" é um filme bem-disposto e emocionante, mas não terá sido uma das grandes obras de 2009.
Os actores principais contribuem para a melhorar o espírito da película e merecem ser reconhecidos por isso. Refiro-me não só a Quinton Aaron, no papel de Michael, mas também aos actores que interpretam a família Tuohy: Tim McGraw, Jae Head, Lilly Collins e, sobretudo, Sandra Bullock como a teimosa e forte Leigh Anne, decoradora, antiga cheerleader e republicana convicta que pertence à maior associação nacional de apoio à posse de armas de fogo. Porém, na minha opinião Sandra Bullock não foi a melhor intérprete no cinema norte-americano em 2009, apenas umas das melhores.
"Um Sonho Possível" tem ainda um pequeno defeito que vou referir brevemente. Será que a escola de Briarcrest já tem mais alunos afro-americanos? Ainda há guetos em Memphis? Há questões que poderiam ser esclarecidas de maneira a esclarecer que não só um sonho foi realizado, mas que outros vão ter a sua vez de ter lugar.

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