domingo, 1 de abril de 2012

Herói tirano

Ontem visionei nos cinemas a mais recente adaptação britânica de uma peça de Shakespeare ao cinema. Coube a honra ao texto dramático "Coriolano", Coriolanus, uma tragédia de 1608 baseada nos feitos de um lendário militar romano, cujo espaço narrativo foi transposto para o mundo actual. Ralph Fiennes realiza e protagoniza o filme, rodado no Reino Unido, na Sérvia e em Montenegro.

Caio Márcio Coriolano, um general que defende a sua querida Roma contra os ataques de um grupo armado de volscos cujos territórios foram tomados, está prestes a ser designado cônsul. No entanto, precisa dos votos do povo romano, que despreza, apesar da sua importância para a decisão final do conselho da cidade. Obter esses votos é uma tarefa bem mais difícil do que Coriolano pensa, pois o povo desconfia de todos os seus feitos guerreiros, desafiando-o por limitar as liberdades civis e ter em tão baixa consideração os seus concidadãos. O general acaba por ser banido de Roma agressivamente, decidindo então vingar-se da cidade aliando-se ao seu grande inimigo de combate, o general volsco Tulo Aufídio.

O filme, seguindo a tradição de outras versões actualizadas de peças da Shakespeare, preserva os diálogos escritos em inglês antigo e une-as a elementos da sociedade moderna, como o meio televisivo, os telemóveis e redes sociais como maneira de transmitir informações, ou as armas utilizadas. Este aspecto, embora possa provocar estranheza em alguns, é bastante interessante e parece colocar o espectador perante um palco de teatro.
"Coriolano" é também uma narrativa que explora os meandros da democracia: é possível existir em pleno? Todos podem ser livres, ou precisam sempre de alguém que os dirija? Quem os dirige não poderá um dia acabar por ser tomado pela fome de poder?
Creio que o filme está bem construído e conseguiu alterar o espaço da peça original sem destruí-la e sem criar algo soporífero ou, por outro lado, algo mais parecido a um "blockbuster" de acção e aventuras. Há várias sequências que envolvem muitas armas e trocas de tiros que poderiam ser reduzidas, mas em si não enjaulam a mensagem política de "Coriolano".
O eleno está bem escolhido e Ralph Fiennes é bastante convincente no papel do controverso general Coriolano, com a cabeça rapada, um olhar azul e penetrante e as suas mudanças de humor. Não receiem se este Coriolano se parecer muito ao Voldemort das adaptações cinematográficas de "Harry Potter"; Fiennes é muito bom a interpretar personagens tenebrosas com um passado conturbado.
Elogiem-se igualmente as canções em língua sérvia acrescentadas à banda-sonora, que parecem conferir um carácter mais trágico ao filme.

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