quarta-feira, 10 de abril de 2013

Para a esquerda e para a direita

"Ferrugem e Osso" é o último filme de Jacques Audiard, o já bem conhecido realizador dos aclamados De Tanto Bater o Meu Coração Parou e Um Profeta. Bem-recebido pela crítica, ganhou vários galardões em festivais e em certames como os Césares, organizados pela Academia Francesa das Artes e Técnicas do Cinema.
 
A narrativa fílmica acompanha uma parte da vida de Alain, um homem que sem trabalho e com um filho que vai viver com a família da irmã e a quotidiano de Stephanie, uma treinadora de orcas num parque aquático. Eles conhecem-se numa discoteca, mas aprofundam o conhecimento mútuo após ela sofrer um acidente laboral que lhe custa ambas as pernas. Enquanto Alain tenta conseguir dinheiro em pequenos trabalhos e em lutas ilegais corpo-a-corpo e Stephanie recupera lentamente a sua vida normal, mas sem a presença das orcas, ambos vão-se unindo.
 
"Ferrugem e Osso" é mormente uma obra sobre a necessidade de enfrentar e vencer as dificuldades da vida. Fá-lo bem, sem incorrer no sentimentalismo fácil. No entanto, o filme não resolve todas as problemáticas que apresenta, algo que funciona nalgumas obras, mas não noutras como esta; assim sendo, o espectador pode sentir no final que à película falta qualquer coisa, que poderia ser outra coisa maior e melhor.
Os atores estão bem escolhidos e as realidades retratadas, como a qualidade de vida de uma classe baixa francesa, foram tratadas com cuidado. Marion Cottilard interpreta a personagem mais interessante do filme, Stephanie, que começa por ter dificuldade em aceitar a ausência das pernas, mas progressivamente regressa a velhas e reconfortantes rotinas e adota novos hábitos. Ainda lhe é possível contactar com a água e nadar; regressa aos sítios que conhece; revê as orcas, porém apenas como visitante do parque; um tatuador escreve nas suas antepernas as palavras "esquerda" e "direita", como que um lembrete de que a vida não terminou para Stephanie, que o seu corpo ainda tem um lado esquerdo, um lado direito e um centro, e que consegue desempenhar qualquer função física.
O filme tem alguns momentos cómicos relacionados principalmente com a sexualidade, mas o humor não se sobrepõe ao drama e às histórias de superação.

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